
Entenda como identificar o quadro que causa lesões no cérebro e na medula logo no seu início
Doença neurológica crônica e autoimune, a esclerose múltipla (EM) afeta principalmente mulheres jovens e em idade fértil – entre 20 e 40 anos. Pelo país, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 40 mil brasileiros enfrentam o quadro. No entanto, a proporção é de duas pessoas do público feminino para cada homem diagnosticado.
Com o poder de comprometer funções motoras, sensoriais e cognitivas, a EM atinge o sistema nervoso central, fazendo com que as células de defesa do organismo se voltem contra as bainhas de mielina – estruturas que revestem os chamados axônios, prolongamentos responsáveis pela transmissão de informação dos neurônios para outras células do nosso corpo.
O médico neurorradiologista Roberto Vasconcelos (CRM-BA 21245 / RQE-BA 20377) ressalta que o fato da doença ser mais comum entre mulheres está atrelado à intensidade da resposta imunológica. “Como as mulheres têm um sistema imune mais reativo, conseguem produzir mais anticorpos e ativar linfócitos CD4, maestros da resposta imunológica. Isso pode levar a uma maior atividade inflamatória no sistema nervoso central, aumentando as chances de desenvolvimento da esclerose múltipla”, afirma.
Embora a causa exata ainda seja desconhecida, existem fatores possíveis em estudo que poderiam elevar o seu risco, a exemplo de predisposição genética, deficiência de vitamina D, tabagismo e obesidade na adolescência. A infecção pelo vírus Epstein-Barr também poderia influenciar os ataques à mielina, segundo algumas pesquisas científicas. “Parte da estrutura do vírus é semelhante à da estrutura da bainha. Com isso, na tentativa de combater o agente infeccioso, o corpo acaba atacando a substância que envolve os axônios e ajuda na proteção dos neurônios. Essa é umas possíveis explicações para gatilhos de início dessa patologia”, explica.
Atenção aos primeiros sinais
Uma vez que as pessoas acometidas pela EM apresentam surtos que persistem por certo tempo, mas que podem passar de maneira espontânea, o especialista alerta para a necessidade de auxílio médico diante de qualquer indício visual, sensitivo ou motor. Os sintomas mais recorrentes são inflamação do nervo do olho (neurite óptica), redução da força em um lado do corpo, nas pernas ou nos membros superiores, sensação de cãibra e formigamento, perda de equilíbrio e problemas na coordenação motora.
“Deve-se procurar acompanhamento, em especial de um neurologista, o mais rápido possível, pois os sintomas são diversos e variam conforme a área do cérebro afetada. Se alcançar os nervos ópticos, por exemplo, pode resultar na diminuição da capacidade de visão”, enfatiza.
Por conta da manifestação de variados sinais, a identificação da doença na fase inicial é muito importante para conter os surtos e prevenir possíveis sequelas. De acordo com o médico, o diagnóstico é baseado na investigação do histórico clínico do paciente, bem como em exames físicos e de imagem. A ressonância magnética do crânio e da coluna serve para apontar as lesões características no cérebro e na medula espinhal. Adicionalmente, ainda pode ser feita a pesquisa dos anticorpos que atacam a mielina e produzem as bandas oligoclonais no líquor – líquido que corre ao redor do cérebro.
Meios de tratamento
A esclerose múltipla não tem cura, mas conta com tratamentos focados em estabilizar ou reduzir a atividade do sistema imune. Dr. Roberto Vasconcelos ressalta que existem medicações imunossupressoras, do tipo imunomoduladores e terapias com anticorpos monoclonais direcionadas à melhoria dos sintomas, diminuição da frequência de surtos e controle da progressão.
Abordagens complementares, como alimentação balanceada e atividade física regular, também são aliadas ao longo do tratamento. “Uma dieta rica em ômega 3, frutas e alimentos anti-inflamatórios ajudam a amenizar a inflamação, o cansaço, entre outros sintomas da EM. A prática de exercícios também promove a saúde geral do paciente, interferindo diretamente na sua energia, cognição e qualidade de vida”, finaliza o neurorradiologista.